BISTURI

E seria apenas um evidente experimento,

entretanto, nunca pude ser o que escrevo,

dinamitar tudo o que carrego por dentro,

a fim de desvirar o meu verso pelo avesso.

Mas me diga, se penso em mudar meu jeito,

escondido entre os corrimãos, e no nevoeiro,

se somente o que pretendo nesse momento

é adiar a dor e desaparecer no firmamento?

Em qual rodada disponho as cartas na mesa?

Há, de fato, uma verdade em ser verdadeiro?

E quem costura metades compõe por inteiro?

E onde posso colar os cacos de mim mesmo?

Antes, tenho de remover as camadas de cera

— com o bisturi cego das mentiras do poema.