CABELOS BRANCOS
Dentro dos meus cabelos brancos pulsa sangue menino,
cada fio é carregado de cicatrizes, varandas, bênçãos, achados,
dá gosto vê-los acordar todas manhãs se espreguiçando feliz.
Esses cabelos brancos sabem tudo de mim,
das minhas graças, farsas, palcos e devaneios,
sabem dos meus nãos, das lágrimas tidas, guardadas e presenteadas,
dos tempos ganhos e perdidos.
Sabem dos meus saltos ornamentais, das vaias merecidas,
das ciladas que eu mesmo armei pra mim.
São álibis e fiéis cúmplices dos teatros do cotidiano,
só eles desnudam e viram do avesso a minha alma,
só eles dão corda no relógio da paixão.
Cada um deles dá razão e temperos à vida,
quem sabe à morte.
Que possa sempre merecer e honrar essa juba que
o tempo esculpiu em mim.