CABELOS BRANCOS

Dentro dos meus cabelos brancos pulsa sangue menino,

cada fio é carregado de cicatrizes, varandas, bênçãos, achados,

dá gosto vê-los acordar todas manhãs se espreguiçando feliz.

Esses cabelos brancos sabem tudo de mim,

das minhas graças, farsas, palcos e devaneios,

sabem dos meus nãos, das lágrimas tidas, guardadas e presenteadas,

dos tempos ganhos e perdidos.

Sabem dos meus saltos ornamentais, das vaias merecidas,

das ciladas que eu mesmo armei pra mim.

São álibis e fiéis cúmplices dos teatros do cotidiano,

só eles desnudam e viram do avesso a minha alma,

só eles dão corda no relógio da paixão.

Cada um deles dá razão e temperos à vida,

quem sabe à morte.

Que possa sempre merecer e honrar essa juba que

o tempo esculpiu em mim.

Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 11/06/2022
Reeditado em 11/06/2022
Código do texto: T7535723
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