NO MATINAL DO DIA

Ela sempre chegava cedo

vindo do fundo das madrugadas

e distante eram seus passos

da casa em que morava

Tinha olhos murchos de brilhos apagados

pelo derramar das tantas lágrimas evaporadas

e em sua face de pele sulcada

profundos leitos de rios secos se formavam

Seus ombros arriados pareciam suportar

o peso do mundo que lhe foi injusto e arbitrário

enquanto trazia nas mãos calejadas

a carência pelos afetos várias vezes sonegados

Ela sempre chegava cedo

bem antes dos sonhos acordarem

deixava café e leite quente na mesa

com pães recém-comprados

preparava o suco, as panquecas e os omeletes

e ia comer sozinha no quarto

distante da sala daquela casa em que não morava

Ela sempre chegava cedo

e nunca jamais se atrasava

mas não tinha a carteira por eles assinada

Joaquim Cesário de Mello
Enviado por Joaquim Cesário de Mello em 10/06/2022
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