NO MATINAL DO DIA
Ela sempre chegava cedo
vindo do fundo das madrugadas
e distante eram seus passos
da casa em que morava
Tinha olhos murchos de brilhos apagados
pelo derramar das tantas lágrimas evaporadas
e em sua face de pele sulcada
profundos leitos de rios secos se formavam
Seus ombros arriados pareciam suportar
o peso do mundo que lhe foi injusto e arbitrário
enquanto trazia nas mãos calejadas
a carência pelos afetos várias vezes sonegados
Ela sempre chegava cedo
bem antes dos sonhos acordarem
deixava café e leite quente na mesa
com pães recém-comprados
preparava o suco, as panquecas e os omeletes
e ia comer sozinha no quarto
distante da sala daquela casa em que não morava
Ela sempre chegava cedo
e nunca jamais se atrasava
mas não tinha a carteira por eles assinada