Sinto muito
Vejo porque sou cego
Escuto porque sou surdo
Falo porque mudo
Sem teorias malucas
Sem ilusões
Sem idéias caducas
Sem aflições
Vejo porque sou surdo
Falo porque sou cego
Escuto porque mudo
O “por quê?” reinará
Na fina voz de uma criança
E sempre existirá
Enquanto houver uma lembrança
Escuto porque sou cego
Falo porque sou surdo
Vejo porque mudo
O certo é que já nasci sabendo
Mas não consigo explicar
A medida que vou crescendo
As ilusões tendem a aumentar
Vejo porque vejo
Escuto porque escuto
Falo porque falo
Ilusões que criamos
Ilusões que esculpimos
Ilusões que amamos
E que choram se partirmos
Vejo porque mudo
Escuto porque mudo
Falo porque mudo
Já sei de tudo
Não minto
Redondo ou pontiagudo
Só sei que sinto
Vi, escutei, falei
O porque, eu não sei.