Morada

Quanto mais o acontecer da vida me atravessa

Mais eu me desconheço

E só assim é que posso aprender a ser eu mesmo:

Sendo cada vez menos o que acreditava que era.

Meu exoesqueleto vai ficando para trás

E os espelhos já não me tranquilizam.

A luz que atravessa a imagem

Torna-a outra que não sei.

Escrever. É o que me resta.

Aos versos entrego a incompreensão

De onde algo luminoso pode nascer.

O poema que germina é então eu

Da forma que quis –e pude– emergir.

E afirmarei com franca serenidade:

Aqui estou; nestas palavras, farei morada.

pedro toscan
Enviado por pedro toscan em 09/06/2022
Reeditado em 09/01/2023
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