Morada
Quanto mais o acontecer da vida me atravessa
Mais eu me desconheço
E só assim é que posso aprender a ser eu mesmo:
Sendo cada vez menos o que acreditava que era.
Meu exoesqueleto vai ficando para trás
E os espelhos já não me tranquilizam.
A luz que atravessa a imagem
Torna-a outra que não sei.
Escrever. É o que me resta.
Aos versos entrego a incompreensão
De onde algo luminoso pode nascer.
O poema que germina é então eu
Da forma que quis –e pude– emergir.
E afirmarei com franca serenidade:
Aqui estou; nestas palavras, farei morada.