QUE VENHAM
Que venham as tropas inimigas com seus estilingues farpados, suas armadilhas tacanhas, seus ardis engendrados. Que venham feras sedentas por destroçar meus poros e fazer farrapos da minha alma. Que venham esfomeados seres ávidos por espezinhar os dias e acabar de vez com meu ar. Que venham todas bestas encarnadas loucas pra fazer o meu suor virar pó, devastando o que tenho de bom, de vivo, de aquecido, de bendito. Que venham em bando, encenando seu rito destruidor sem pena, sem respeito, sem alegoria. Que venham todas assombrações que perseguem meus passos desde o primeiro tombo, entrincheiradas nas escunas servis soberbas e pueris do medo. Que venham desenterrando as garras, estonteando cada alameda florida que resiste em mim. Estou armado até os dentes pra enfrentar as tropas mais letais que o universo for capaz de cuspir. Estou pós-doutorado nessa couraça que nem Deus consegue dissipar. Que venham furacões tresloucados, que venham manadas de rinocerontes, daqueles que fazem o chão do planeta tremer feito vara verde. Meu sangue se abençoa de sabedorias pra proteger o chão que me acolhe, que me tem, que me nina, que me ama. Sobretudo, que me ama.
Amém!