CONTRA O DIA DE HOJE
O amanhã não importa.
Nele não cabem nossas urgências.
O amanhã é a morte.
É sempre o dia de hoje
aquela maldita parte do tempo que dói,
que cansa,
e termina sem qualquer conclusão.
Todos os dias possíveis são o dia de hoje.
Um desagradável dia de hoje,
que mata aos poucos,
sem o alívio de qualquer amanhã
ou juízo final.
Quem me dera poder dormir
e não acordar novamente para o dia de hoje.
Talvez me surpreender perdido
em qualquer tempo
anterior ao meu nascimento,
Saber o paradoxo de ser
sem ter, ainda,
se quer existido.
O amanhã seria, então, o meu dia de hoje
e o passado não faria sentido.