Caixa de Presentes
O passado cabe numa caixa de presente.
Tenho memórias bem embrulhadas
numa caixa de um presente que ganhei
em algum ano que atualmente desconheço
Vez ou outra abro a boca da saudade
Janto lembranças para fartar o íntimo.
Na caixola, o passado exala sua essência
Os cheiros são ótimos romancistas
Nunca achei que fosse capaz de tocar lembrança
Mas o tato desmentiu o impossível
Como se cata feijão ou se caça tesouro
Desmato papéis, fotos, cartas, chaveiros...
Com uma calma de fazer inveja a mim mesmo
Os melhores achados são os que não esperamos
E eu não esperava que o passado me contasse novidades.
Tirei com os olhos fotografias da minha 3x4
no intento de não esquecer as vidas passadas
Reli cartas velhas como se estivessem na flor da idade
E a flor da pele finalmente deu as caras
Ouvi com os dedos as canções que tocavam no ingresso
do melhor show que já fomos em nossa vida
Viajei nos cartões de embarque
como pesavam estas bagagens de mão!
Vi filmes inéditos nos tíquetes desbotados
não lembrava daquela minha cena...
Cerro aquela caixa de papel
Como se fosse cofre antigo
de trezentos e vinte quilos
Só eu sei o seu segredo
Enterro de novo no armário
Em minha ilha deserta
biodiversificada.