Desperdício

Tu

Que fora lapidada por incontáveis vidas

Entre idas e vindas tu te tornas o que és e mais

Tu és como a branca nuvem disforme que carrega em si a potência do choro

Derrama sobre os lençóis o tempero dos teus olhos negros

Tu

Que és breu quando amanhece o dia

Entre versos e melodia tu te tornas a cantiga de ninar do filho que não tivera

Espera

Acalenta

Reverbera um desassossego no leito teu

Tu

Que se espalha pelo caminho dos outros

Entre a vieira e a concha tu se esconde inteira

Tu és melancolia que se extravasa em palavras

Conforta

Expande

Apazigua o elefante que te esmaga o peito

Tu mesma te salvas do efeito da beirada

Quando queres se lançar no precipício

Mas sabes que qualquer fundo de poço para ti

é puro desperdício

Para Mariana Martins Costa Maia Gomides

@literuaitura