APARELHO

Há uma rajada que me diz, aberta,

que, sem você, eu não seria poeta;

vai e volta, de supetão, e completa:

— A energia do seu verso vem dela.

Às dezenove, a noite é quase repleta,

mas ainda brilha a última luz da vela

da tarde que rodeia todo o hemisfério,

onde vários roxos tingem minha janela.

Na guilhotina das horas que me velam,

só a sua carne de neve é o ar que resta.