O PASSAR DAS ETERNIDADES PASSAGEIRAS

Estamos fadados à eternidade dos instantes,

pois todo momento é infinito em sua transitoriedade.

Mas a imortalidade dos segundos é tão passageira.

que, quando menos damos conta, já entramos

em outra breve e veloz eternidade.

A vida não é concisa nem longa

- como bem já sabia Sêneca –

todavia a esbanjamos com a ligeirice

das pequenas e fugazes efemeridades.

Há quem se cegue pelo brilho afastado das estrelas,

outros se vangloriam dos aplausos

recebidos ao final das sextas-feiras,

quem nem sobrevivem ao madrugar dos sábados

ou o cocoricar matinal dos galos

Não sei se o amanhã me chega,

porém o agora me existe

com toda sua delicadeza e fragilidade.

Não há quem não passe por bons e maus bocados,

afinal, nem a Terra, que é redonda,

é assim tão linear, reta e bem alinhada.

O que importa não é quantidade dos anos vividos,

mas os minutos aproveitados

Ah! se eu soubesse

que os momentos são eternos

não olharia tanto os ponteiros e os números,

que apenas assinalam e registram

o passar morredor das horas.

* * *

Certa vez uma cigana me disse:

“cuidado com o canto das sereias,

o inebriar dos vinhos

e o encandecer das medalhas,

pois se você acha que é a vida

é curta, pequena e ligeira,

menor ainda é o tempo que contamos

nos relógios e nas velhas folhas de calendários”.

- E proferiu ainda mais:

“para quem não sabe amar a vida,

ela somente é algo que

passa acelerada, agoniada e avexada"

* * *

Estamos condenados aos instantes,

e são deles que retiramos essa coisa

comumente chamada de eternidade

Joaquim Cesário de Mello
Enviado por Joaquim Cesário de Mello em 27/05/2022
Reeditado em 27/05/2022
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