Náusea, enjôos e embaraços

Náusea, enjôos e embaraços

Não é que eu seja frágil

ou uma questão de ser forte...

Apenas não estou bem.

Porque há de haver razão

para rir quando se vê a felicidade

em toda sua infinita efemeridade

e motivos para arrepiar-se quando nos toca

a instantânea essência do que é a morte?

Porque insistir em entender

se nosso futuro é esquecer

(e ser esquecido)?

Tão insuportável quanto a verdade

é a realidade.

Talvez por serem a mesma coisa.

Talvez por não haver talvez...

(Por mim, jogaria tudo pro alto:

não que o céu o mereça,

mas só prá sentir definitivamente

o peso de tudo isso em minha cabeça.

Hoje meu estômago embrulhou,

e todo o mundo parou:

se fosse o estômago da minha alma,

não seria nenhuma novidade...)

Estou indisposto, já disse.

Se não disse, sabes agora!

Minha indisposição é a mesma de todo dia:

viver uma vida que não é minha;

dizer que está tudo bem e perguntar por famílias alheias;

fechar os olhos para a mesquinhez de tudo e de todos;

e, sobretudo, ignorar minha própria vileza...

Deixe-me ser vil ao menos por um dia,

e tereis um ano de um bem educado

e sempre indisposto

(disfarçado, mas bem educado)

sorriso gentilmente falso.

E mais, até.

Naturalmente,

falsos.

Adriano Dal Molin
Enviado por Adriano Dal Molin em 25/11/2007
Código do texto: T752408
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