OFENSA SAGRADA

OFENSA SAGRADA

Até as pedras se ofenderam de tamanha vilania

Jamais, vi coisas tão monstruosas, anormais...

Entre feras, abutres, hienas, tigres e chacais

Indigna se tornava sua intolerante ousadia!

As negras pedras do templo chorarão eternamente

As alvas toalhas de linho ficaram sujas de repente

E o Cristo acorrentado àquele madeiro infame,

Não pode fazer nada mais do que suportar o vexame.

Nem no horto das oliveiras ficou tão agonizado

Que só não saiu daquele antro porque o tinham amarrado

Como amarrado que o trazem há quase dois mil anos,

Vivendo às expensas Dele, essa cambada de tiranos.

E entre Cristos, Santos, Anjos, Arcanjos e Querubins

O safardana do cura fazia orgias e bacanais...

Praticava adultérios, estupros e muitas coisas mais...

Fazendo de Deus e de sua corte, uns arlequins.

Profanava o templo divinal, essa casa sagrada

Vivendo na orgia, enterrado no pecado noite e dia

Consagrando a hóstia sacrossanta, a divina eucaristia

Com as mãos tintas do pecado, e a alma enodoada.

Oh! Céus!...

- Como podeis não desabar sobre esta terra maldita?

Como podeis suportar tanto sacrílego ultraje?

Como deixais impune tanto tempo quem assim age?!

Abusando com arrogância de vossa Bondade infinita...

Mas esses abrutes infernais, seus crimes terão, ainda.

Desenterrados dos dogmas fantásticos que os encobrem

Mostrando então as glândulas de serpentes que se abrem

Hiulcas, vorazes, devassadoras, cheias de veneno infindas

Esses corvos negros, serpentes de hediondez profunda

Rugindo a maldade em sua própria consciência

Tentarão negar, pelo bem, pelo mal, ou pela violência

O seu crime atroz, e ocultar a sua nódoa imunda.

Eles mesmos constituem o próprio vírus da heresia

Dilapidados da honra, da comiseração humana

Tentarão trocar a batina e a dalmática romana

Pelo manto dos cabotinos, a sina da hipocrisia.

Do misérrimo báculo ao hissope de água-benta,

Das lúbricas luxúrias ao esquálido cemitério,

Tudo que têm ignoto, envolto em sórdido mistério...

Cairá por terra o gérmen maldito que a alimenta,

Quando a consciência humana, em sua sabedoria

Avaliar quão balofa era a doutrina praticada

Por esses vilões. Histriões de sua própria palhaçada

Que fazem a coleta em meio da Ave-Maria!...

Assim como do templo fazem bordel profano

Destruindo lares, que unir em Deus eles alegaram,

São feras tão capazes de destruir quem vitimaram,

Mais vorazes que as famintas feras d'arena de um tirano.

Esses morcegos negros, essas corujas sangüinárias,

Sugam o sangue, a carteira, e a honra em adultério,

Escarnecem suas pompas e responsos de mistério...

Quando o féretro é de gente pobre de condições precárias.

Mas se for de gente rica, gente bem endinheirada!

Levará todas as pompas, para que não falte nada.

Rezarão responsos, para os outros, nunca terminados!

Porque para rezar muito, têm preços estipulados.

Se conforme o grau hierárquico as rezas têm valor,

Não sois vós oh! pobres! que alcançais a salvação divina

Porque as rezas de bispos, papas, cônegos e cardeais,

Não vos pertencerão nunca, porque, também, não as pagais.

Armando A. C. Garcia

São Paulo, 11/05/64

Armando Augusto Coelho Garcia
Enviado por Armando Augusto Coelho Garcia em 23/11/2005
Reeditado em 18/05/2007
Código do texto: T75239