GATO PRETO
um pedaço da noite
caiu sobre o telhado
não fez barulho algum
por ser todo anuviado
planou sobre as telhas
de escuro avermelhado
iluminando as centelhas
dos seus olhos de gato
fundiu-se em voo preciso
ao preto azul do céu
dois olhos brilhantes
constelação em carrossel
pousando sobre o muro
e olhando-nos de lado
continuou indiferente
os seus passos de gato
não cantou de galo
nem uivou pra lua
viu silêncio no asfalto
estudou toda a rua
saltou direto ao breu
como seu último ato
e então desapareceu
o seu corpo de gato
um pedaço da noite
de arquitetura felina
suaves linhas curvas
correu a que se destina