OS JARDINS DAS INFÂNCIAS

Somos todos frutos

exilados dos jardins floridos da infância

terrenos pisados com diminutos pés

que sustentavam as horas dos anos inocentes

Nascemos banhados de infância

e molhados brincávamos de ser criança

que era a única coisa que sabíamos fazer

naqueles tempos em que éramos crianças

Na época em que éramos infantes

não sabíamos que se morria

pois na infância a morte é toda mistério

Nos jardins e quintais da meninice

tudo se achava enorme e avultado

e o mundo tinha a mesma metragem

que a imensidão próxima dos quarteirões

Os jardins das nossas infâncias

eram amplos, vastos e dilatados

e neles o universo começava

e neles o universo terminava

e nada parecia sequer ter fim

Nos jardins das infâncias

chuvas viravam dilúvios

formigas eram gigantes

e nos guarda-roupas fechados dos pais

se ocultavam feitiços mágicos

e os segredos mais encantados

Ainda hoje trazemos

retido às narinas

o cheiro das flores dos jardins

dos nossos paraísos perdidos

de onde fomos um dia

sem querer ou pedir

subitamente evaporados

Joaquim Cesário de Mello
Enviado por Joaquim Cesário de Mello em 19/05/2022
Reeditado em 19/05/2022
Código do texto: T7519281
Classificação de conteúdo: seguro