OS JARDINS DAS INFÂNCIAS
Somos todos frutos
exilados dos jardins floridos da infância
terrenos pisados com diminutos pés
que sustentavam as horas dos anos inocentes
Nascemos banhados de infância
e molhados brincávamos de ser criança
que era a única coisa que sabíamos fazer
naqueles tempos em que éramos crianças
Na época em que éramos infantes
não sabíamos que se morria
pois na infância a morte é toda mistério
Nos jardins e quintais da meninice
tudo se achava enorme e avultado
e o mundo tinha a mesma metragem
que a imensidão próxima dos quarteirões
Os jardins das nossas infâncias
eram amplos, vastos e dilatados
e neles o universo começava
e neles o universo terminava
e nada parecia sequer ter fim
Nos jardins das infâncias
chuvas viravam dilúvios
formigas eram gigantes
e nos guarda-roupas fechados dos pais
se ocultavam feitiços mágicos
e os segredos mais encantados
Ainda hoje trazemos
retido às narinas
o cheiro das flores dos jardins
dos nossos paraísos perdidos
de onde fomos um dia
sem querer ou pedir
subitamente evaporados