Querido João Azenello Carrascoza

Um amigo me contou

Ou foi um pássaro de longe,

Próximo a meu ouvido vivo, atento,

Que você namora Clarice

E que, trazido pelo vento,

O bicho que te picou

Passeia pela crendice

De poeta, de menino entre cobertas

E de sonhador perdido sob um teto de papel crepom.

Então me conte, como estão os teus meninos?

E a tua água toda, clara e quente?

Tua respiração ofegante e tua morte presente?

Ainda detestas geografia?

Ainda trocas o sol posto

Sem mistério, sem mudança e já proposto,

Por lua vadia e cheia

E por seresta em fim do dia?

Nosso sonhar é verbo partilhado e não seria?! Conjugado na síntese e no sabor

Do que é e do que seria.

Quero abraçar teu sol despido, escondido

Dentro do armazém onde tuas palavras se abraçam e se despedem...

Quero também amar Clarice,

Na pena recém-nascida, dolorida,

Na loucura e na medida

Das histórias que se completam,

Que se encontram e não se perdem.