Maldito Dia
Mesmo cansada, ontem improvisei seu presente
Para que o dia não passasse em branco
Hoje, limpei a casa e lavei o banheiro
Na ansiedade que logo você chegaria
Para almoçarmos juntas
Todas as vezes que um carro passava em frente a casa
Eu corria para a janela
E ficava à espreita
Esperando que fosse seu rosto
Vindo para casa
Eu te esperei mais um pouco
Minhas lágrimas logo vieram me fazer companhia
Mas eu as reprimi
Porém, as horas continuaram a passar
Almocei sozinha, fingindo que hoje era um dia comum
Ao cair das duas, você chegou
Não pediu desculpas por ter me abandonado
Agiu como se nada tivesse acontecido
E foi conversar com alguém no telefone
À essa altura controlar o choro foi impossível
As lágrimas se tornaram pranto
E logo eu transbordava em minha própria água salgada
Ficou em casa por três horas e mais uma vez
Saiu com uma despedida ligeira
Nem as estrelas apareceram hoje à noite
Para me fazer companhia
Estou mais uma vez na janela
À espera, Deus sabe de que
Meu peito se estilhaça
Após todos os trincos do dia a dia
Minha playlist tenta me confortar
Mas dentro de mim só há geleiras
E nada parece aquecer meu peito
A única certeza que tenho, além de saber que aqui não é o meu lugar
É que, uma vez mais
Serão as lágrimas que, pegando-me pela mão
Me levarão ao sono
Enquanto repito para mim mesma
Que não é comigo o problema e que sou digna de ser amada
Talvez de tanto repetir
Eu me convença disso.
Ana Oliva