Emoção
Emoção
maria da graça almeida
Nasci feitinha de mar.
Marinha, era a água salgada
que me corria nas veias,
vazando descompassada
em noites de lua cheia.
Era um mar bem antigo,
tormentoso, incontido
que já nascera comigo
nas entranhas escondido.
Ouvia eu inda bebê
cantigas pra adormecer
e sob o embalo da mãe
todo meu mar escorria
e salgada como a lágrima,
muita água me descia.
Minha mãe, enternecida,
julgava que seu entoar,
tanto me emocionava
que, com trejeitos e graça,
devargarzinho eu chorava.
Pus-me a dar como certa
a materna fantasia
e assumi toda a roupagem
de pessoa emotiva.
Por muito tempo segui
a verter solto meu mar,
toda vez que perto ouvia
um doce ou triste cantar.
E assim imenso esse mar
sempre tão pronto a vazar
mais se fazia abundante
e um tolo choramingar
tornou-se choro constante.
Hoje meu mar já enxuguei,
gotas salgadas sequei,
a resgatar certos versos
que, entre balanço e lágrimas,
agonizavam submersos.