Pobre Operário dobrando
a esquina do casarão
que está sempre fechado.
disseram-lhe os grandes:
“Não entra ali, pois
é mal assombrado.”
disseram-lhe os grandes:
quando ele era o menor.
Pobre Operário que vem
sozinho sorrindo...
um pouco bêbado e tonteado,
Só um pouquinho…
dizendo pra si que:
antes só do que
mal-assombrado...
avistou uma menina
que tinha ar de doçura
parada no portão
vestidinho rosinha surrado,
pezinhos sujinhos, parados
... fincados
no barro molhado.
"que faz aqui, princesinha?
não sabes que o casarão é moradia
do cão, que é chamado Tinhoso,
que é chamado Diabo?!”
A menina sorriu
e seus olhos
ficaram amarelos
grandes, brilhantes
como os
de um gato.
Mas, cheios de maldade...
Presas brotaram da boca
que antes era miudinha
incontáveis dentes pontudos
num bote certeiro.
Pulou como um animal
no pescoço do bom homem;
de boa índole... boa família…
e também de má sorte.
Desarmado
de alma roubada.
o sangue espirrou com força…
Do bote em pescoço, que manchou
o portão e pintou a calçada.
O dia amanheceu
escarlate
após a dentada.
traumatizando
todos os outros dias
que ainda viria.
quem acordou cedo?
quem teve o fôlego preso
da noite pro dia…? Quem viu?
Jazia ali…
o operário
pescoço quase,
que fora do corpo inteiro
arrancado
morria ali
um bom homem
de boa índole…
operário.
Quem acordou cedo?
Quem foi que viu?
Quem viu…?
quem viu
a menina bonita
dos olhos de gato?
31 de agosto de 2017