Pobre Operário dobrando

a esquina do casarão

que está sempre fechado.

disseram-lhe os grandes:

 

“Não entra ali, pois

é mal assombrado.”

 

disseram-lhe os grandes:

quando ele era o menor.

 

Pobre Operário que vem

sozinho sorrindo...

um pouco bêbado e tonteado,

 

Só um pouquinho…

 

dizendo pra si que:

antes só do que

mal-assombrado...

avistou uma menina

 

que tinha ar de doçura

parada no portão

vestidinho rosinha surrado,

pezinhos sujinhos, parados

 

... fincados

no barro molhado.

 

"que faz aqui, princesinha?

não sabes que o casarão é moradia

do cão, que é chamado Tinhoso,

que é chamado Diabo?!”

 

A menina sorriu

e seus olhos

ficaram amarelos

grandes, brilhantes

 

como os

de um gato.

 

Mas, cheios de maldade... 

 

Presas brotaram da boca

que antes era miudinha

incontáveis dentes pontudos

num bote certeiro.

 

Pulou como um animal

no pescoço do bom homem;

de boa índole... boa família…

e também de má sorte.

 

Desarmado

de alma roubada.

 

o sangue espirrou com força…

Do bote em pescoço, que manchou

o portão e pintou a calçada.

 

O dia amanheceu

escarlate

após a dentada.

 

traumatizando

todos os outros dias

que ainda viria.

 

quem acordou cedo?

quem teve o fôlego preso

da noite pro dia…? Quem viu?

 

Jazia ali…

o operário

pescoço quase,

que fora do corpo inteiro

arrancado

 

morria ali

um bom homem

de boa índole…

operário.

 

Quem acordou cedo?

 

Quem foi que viu?

 

Quem viu…?

 

quem viu

menina bonita 

dos olhos de gato?

 

31 de agosto de 2017

 

 

Henrique Britto
Enviado por Henrique Britto em 03/05/2022
Código do texto: T7508587
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2022. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.