ESCULPIDA
Na escultura que forja sua mão livre nasce a poesia, inerte em sua gênese.
A cada momento lapida um verso novo decantado nas palavras perfiladas,
que harmonizam e se completam na doação primária da coerência que
irmanam.
A luz do dia seguinte vê uma escultura em gestação, tênue, indecifrável,
face ainda não rendilhada, busto ainda não acabado,
do olho que não brilha, da boca que não sorri.
A cada átimo que irrompe é uma descoberta e as palavras desafiam e
gravitam autonomia; libertas em sua morada, fitam-no dispostas a compor o
teu poema, esculpir tua alma.
Você perscruta a escultura e tenta ouvir sua voz, entender o que sente,
senta a seu lado, e no silêncio da noite que abraça, do vento que canta,
da estrela que brilha, você toca o coração da poesia.
Ela ainda não se vê inteira e propõe reparo no nariz e uma boca para dizer
feliz, em seu corpo de luz e arte.
Não peça à poesia mais que mereça, não exija o que ela não lhe pode dar,
não a corrompa, e quem sabe assim, os versos, amantes da inspiração, a
desnudarão em sua melhor roupa, e finalmente verá um pomar com os frutos
pedindo para serem colhidos no corpo em que foram esculpidos.