ESCULPIDA

Na escultura que forja sua mão livre nasce a poesia, inerte em sua gênese.

A cada momento lapida um verso novo decantado nas palavras perfiladas,

que harmonizam e se completam na doação primária da coerência que

irmanam.

A luz do dia seguinte vê uma escultura em gestação, tênue, indecifrável,

face ainda não rendilhada, busto ainda não acabado,

do olho que não brilha, da boca que não sorri.

A cada átimo que irrompe é uma descoberta e as palavras desafiam e

gravitam autonomia; libertas em sua morada, fitam-no dispostas a compor o

teu poema, esculpir tua alma.

Você perscruta a escultura e tenta ouvir sua voz, entender o que sente,

senta a seu lado, e no silêncio da noite que abraça, do vento que canta,

da estrela que brilha, você toca o coração da poesia.

Ela ainda não se vê inteira e propõe reparo no nariz e uma boca para dizer

feliz, em seu corpo de luz e arte.

Não peça à poesia mais que mereça, não exija o que ela não lhe pode dar,

não a corrompa, e quem sabe assim, os versos, amantes da inspiração, a

desnudarão em sua melhor roupa, e finalmente verá um pomar com os frutos

pedindo para serem colhidos no corpo em que foram esculpidos.

Orlando Alves Ribeiro
Enviado por Orlando Alves Ribeiro em 02/05/2022
Código do texto: T7507401
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