A MORTE SUSPENSA
Agora que estou nesta fotografia
iludo-me de permanência
enquanto o mundo lá fora
se dissolve em ruínas e transitoriedades
Aqui no segundo perdurável
inexistem barulhos ou murmúrios
das ruas e das paisagens
tão somente a mudez ecoante
do prolongado sossego da perenidade
No murchar dos dias
persisto no interior da imagem
subsistindo ao oxidar das horas
e a tudo o que me era antes
breve, findável e provisório
A eternidade é a interrupção do tempo
o frear dos relógios
o congelar dos gestos
e a solidão grudada para sempre
no interior afônico dos retratos