A MORTE SUSPENSA

Agora que estou nesta fotografia

iludo-me de permanência

enquanto o mundo lá fora

se dissolve em ruínas e transitoriedades

Aqui no segundo perdurável

inexistem barulhos ou murmúrios

das ruas e das paisagens

tão somente a mudez ecoante

do prolongado sossego da perenidade

No murchar dos dias

persisto no interior da imagem

subsistindo ao oxidar das horas

e a tudo o que me era antes

breve, findável e provisório

A eternidade é a interrupção do tempo

o frear dos relógios

o congelar dos gestos

e a solidão grudada para sempre

no interior afônico dos retratos

Joaquim Cesário de Mello
Enviado por Joaquim Cesário de Mello em 01/05/2022
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