Nascer Todas as Manhãs

Apesar da idade

não me acostumar à vida,

vivê-la até ao derradeiro suspiro

de credo na boca

sempre pela primeira vez,

com a mesma apetência,

o mesmo espanto,

a mesma aflição.

Não consentir que ela se banalize

nos sentidos e no entendimento.

Esquecer em cada poente

o do dia anterior.

Saborear os frutos do quotidiano

sem ter o gosto deles na memória.

Nascer todas as manhãs.

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Miguel Torga, in "Diário XIV e 1982
Enviado por Maria Irene em 28/04/2022
Código do texto: T7505215
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