Prece do pobre lascado
Tenho rezado pouco
Santo nenhum me escuta
Sou tronco oco e terra seca
Pedir a Deus é incógnita
Perda de tempo e desgaste
A mudança é real e imutável
Cansaço me norteia, porque
A mudança vem, real e viva
E eu preciso modificar meu jogo
Mas eu não queria.
Queria manter tudo e fingir.
Fingir que está tudo legal
Há anos não está nada legal
Tudo apodrecendo, sem gelo
Sem ar, sem pulmão, sem neurônio.
Isso que escrevo é uma reza, oração
Para que o santo que me rege, me escute
Me faça compreender o lado bom
Me faça entender a boa filosofia de mudar
De deixar a casca apertada para trás
E tentar começar algo novo, de novo
Mas eu estou cansado.
Tenho tanto pra fazer, tanto pra tentar.
Tanto pra viver e fingir que respiro
Trago tanta coisa pra mim que já era
Traguei e trouxe tudo, um mundo em lixo
Em cima de mim, minhas costas doem
Sinto minhas pernas fraquejarem
Sinto meus ossos estalarem
Isso é uma prece, um pedido de ajuda
E começando com "tenho rezado pouco"
Termino com uma prece, um pedido
Um socorro, um murmúrio.
Deus e santo, se existe ou não
Me dê uma única luz, um farol
Onde posso fingir de caminho
Se eu não caminhar, enxergarei
Com certeza conseguirei ver.
Se a miopia me der a honra.
Isso é uma grande oração
Com fitas e laços coloridos
Enfeitado pra santo me amparar
Bondade Dele cuidar do pobre lascado
Que sou eu pedindo só quando convém
Só quando tô bem no poço, afundando.