FESTA DE ANIVERSÁRIO

Miné esquentava os bolos de goma

no forno que havia lá em casa

e fazia os brigadeiros na panela

com colher de sopa com manteiga

e uma lata de Leite de Moça condensado

Balinhas coloridas de jujuba

também não podiam faltar

afinal eram os dias em que comemoravam

os longínquos anos dos meus aniversários

Gostava do cheiro do açúcar e do achocolatado

que exalava dos beijinhos, dos cajuzinhos

e dos olho-de-sogra

quando a cozinha ficava então impregnada

de uma leve e fina neblina

de farinha de trigo e vapor d’água

Porém, o que mais empolgava

era esperar a hora em que a Gloria chegava

com seus cabelos em tranças amarrados

e com seus óculos de fundos de garrafa

Me dava uma tremedeira nas pernas

o coração disparava

a mão ficava ensopada

e eu ainda era menino demais

para saber e entender o porquê

mas só sei mesmo era que eu adorava

e profundamente suspirava

E quando a noite acordava

era uma algazarra danada

criança pra todo lado

correndo, pulando, brincado

e o taco do chão da sala

ficava todo arranhado e sujado

Num gostava era do instante de cortar o bolo

assoprar forçado as velinhas

e cantar parabéns para mim

pois sabia que tempos depois

os adultos iam embora

levando com eles a meninada

e logo mais iria sozinho dormir

Se soubéssemos que a infância passava

teríamos corrido sem parar

pulado alto para chegar ao céu

e brincado sem sossegar

até o sol do outro dia raiar

Se eu soubesse que viraria menino crescido

trocaria todos os presentes

da soma inteira daqueles aniversários

por uma dúzia e meia

de alguns minutos e um pouco

de um pouquinho mais

Joaquim Cesário de Mello
Enviado por Joaquim Cesário de Mello em 27/04/2022
Reeditado em 27/04/2022
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