FESTA DE ANIVERSÁRIO
Miné esquentava os bolos de goma
no forno que havia lá em casa
e fazia os brigadeiros na panela
com colher de sopa com manteiga
e uma lata de Leite de Moça condensado
Balinhas coloridas de jujuba
também não podiam faltar
afinal eram os dias em que comemoravam
os longínquos anos dos meus aniversários
Gostava do cheiro do açúcar e do achocolatado
que exalava dos beijinhos, dos cajuzinhos
e dos olho-de-sogra
quando a cozinha ficava então impregnada
de uma leve e fina neblina
de farinha de trigo e vapor d’água
Porém, o que mais empolgava
era esperar a hora em que a Gloria chegava
com seus cabelos em tranças amarrados
e com seus óculos de fundos de garrafa
Me dava uma tremedeira nas pernas
o coração disparava
a mão ficava ensopada
e eu ainda era menino demais
para saber e entender o porquê
mas só sei mesmo era que eu adorava
e profundamente suspirava
E quando a noite acordava
era uma algazarra danada
criança pra todo lado
correndo, pulando, brincado
e o taco do chão da sala
ficava todo arranhado e sujado
Num gostava era do instante de cortar o bolo
assoprar forçado as velinhas
e cantar parabéns para mim
pois sabia que tempos depois
os adultos iam embora
levando com eles a meninada
e logo mais iria sozinho dormir
Se soubéssemos que a infância passava
teríamos corrido sem parar
pulado alto para chegar ao céu
e brincado sem sossegar
até o sol do outro dia raiar
Se eu soubesse que viraria menino crescido
trocaria todos os presentes
da soma inteira daqueles aniversários
por uma dúzia e meia
de alguns minutos e um pouco
de um pouquinho mais