Sem preceito de amparo
Comtemplando a escuridão, vi se aproximar umas almas desleixadas, assoladas e sem rumo. Seguidamente veio-me um breve testemunho, em que vindas as verdades, disse-me ali, quase tudo. Não que eu já não soubesse que riria, mas assim sabendo, sorri sem embargo.
Ah, mas não se engane, o que assombra não é o que vai, e sim os escombros amontoados que ficam, dezenas, em que me tapam a visão. Amei menos que devia, senão mais que o necessário! E dividi em poucas doses, um sentimento pesado, e espalhei pelos cômodos em que havia me entubado, numa mente entorpecida e lotada de um ingente vácuo.
Talvez eu tenha me equivocado, e errei ao contentar-me em ser-me eu, devesse talvez ter sido mais, algo para lá do que jamais fui. Embora o calafrio repercute por todo o meu já tão solitário recanto, sento-me nos bancos dos solitários, recuo, me esqueço, me encontro e me amparo. Um silêncio que movimenta, que se espalha e se alimenta, que se estende e sedimenta, e de mim por fim se faz morada. Na alma, um nulo, um leve resmungo ao longe, uma saudade que canta e me grita, me traz de volta, e me expulsa da vida.
E essa angústia sedenta e rancorosa, desdobrando o tempo, impregnando-me o medo, numa desmedida falta de razão. E por fim me desfaço, de mim mesmo e de meus traços, e os deixo de antemão, amarrados numa estaca, sem um qualquer para estender-lhes a mão.
Onde um sonho se cala,
Sem preceito de amparo.