360°
O que seria dos meus pés sem os calos
das minhas mãos sem a pele engelhada
e se minha face fosse desenrugada?
O que seria dos músculos enferrujados
do colesterol um pouco elevado
das unhas carcomidas de dias
e deste meu abdômen dilatado
por milhares de cervejas tomadas?
O que seria dos óculos sem a miopia
a equivocar minhas alquebradas retinas
e dos meus cabelos encanecidos de fases
que sempre esqueço de pintar?
O que seria da memória sem os ontens passados
das mágoas vaporizadas
do acervo acumulado
e das lembranças distantes de coisas e pessoas
que agora já não persistem mais?
Significaria que ainda não vivi o que vivi
que estaria para errar o que errei
me alfabetizar no que me letrei
e me experimentar em afetos
naquilo que aprendi a ser
no ser quem hoje sou
Como não posso, nem quero,
voltar para trás
vou seguindo em frente
dando a volta ao mundo
e amanhã, quem sabe?
me totalizar em 360º