IN INTERIORE HOMINE

Na alquimia do tempo

o hoje se dissolve

em lembranças no amanhã

A biografia não é feita de vocábulos

mas de instantes grudados de afetos

que se rememoram nos longos corredores

que sinuosos nos percorrem por dentro

em um emaranhado de portas e quartos

onde hibernam ruídos e sussurros

do pretérito das coisas findadas

(No labirinto do Homem

correm as águas do rio de Heráclito

onde até os Minotauros morrem afogados)

Em sua química o tempo não passa

ele apenas muda e se transforma

de sólido em líquido

como um gelo que vira água

e depois se transverte em chuva

Tudo flui

se move e vai

(de imóvel só nos cabe a morte)

Nada fica como um dia já foi

pois as lembranças do ontem

são partículas misturas que formam o monumento

que temos de quem somos nós

De quantos minutos de ontens

são feitas as memórias?

E quantos foram os minutos desperdiçados

nos ralos e bueiros que trazemos?

A história de um sujeito

não é um repositório de acontecimentos

porém uma fusão intrincada

de fantasias, eventos, devaneios

ideações e sentimentos

(A história é uma crônica misturada

que inventamos no interior que temos)

Quem quiser conhecer a si mesmo

precisa saber do solo, da raiz e da ramagem

da Árvore da Vida que se encontra perdida

em algum paraíso nas brenhas profundas

das florestas dos seus relatos de si

No interior humano

de cada humano

habita sua verdade

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“Noli foras ire; inte ipsum redi; in interiore homine habitat veritas” (Santo Agostinho)

Joaquim Cesário de Mello
Enviado por Joaquim Cesário de Mello em 25/04/2022
Reeditado em 25/04/2022
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