IN INTERIORE HOMINE
Na alquimia do tempo
o hoje se dissolve
em lembranças no amanhã
A biografia não é feita de vocábulos
mas de instantes grudados de afetos
que se rememoram nos longos corredores
que sinuosos nos percorrem por dentro
em um emaranhado de portas e quartos
onde hibernam ruídos e sussurros
do pretérito das coisas findadas
(No labirinto do Homem
correm as águas do rio de Heráclito
onde até os Minotauros morrem afogados)
Em sua química o tempo não passa
ele apenas muda e se transforma
de sólido em líquido
como um gelo que vira água
e depois se transverte em chuva
Tudo flui
se move e vai
(de imóvel só nos cabe a morte)
Nada fica como um dia já foi
pois as lembranças do ontem
são partículas misturas que formam o monumento
que temos de quem somos nós
De quantos minutos de ontens
são feitas as memórias?
E quantos foram os minutos desperdiçados
nos ralos e bueiros que trazemos?
A história de um sujeito
não é um repositório de acontecimentos
porém uma fusão intrincada
de fantasias, eventos, devaneios
ideações e sentimentos
(A história é uma crônica misturada
que inventamos no interior que temos)
Quem quiser conhecer a si mesmo
precisa saber do solo, da raiz e da ramagem
da Árvore da Vida que se encontra perdida
em algum paraíso nas brenhas profundas
das florestas dos seus relatos de si
No interior humano
de cada humano
habita sua verdade
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“Noli foras ire; inte ipsum redi; in interiore homine habitat veritas” (Santo Agostinho)