1, 2, 3... 40, 50, 60...
Cinco foi o número que me deram
quando completei cinco anos
Quinze foi a soma dos anos
que em mim se colou
por ocasião do décimo-quinto aniversário
Vinte foi o algarismo com que cognominaram
o celebrar dos meus rápidos vinte anos
Depois se seguiu o trinta e o quarenta
em que ninguém comemorou
minhas três e quatro décadas
E assim a vida foi passando
que nem conta de mercearia
ou cifras de extratos bancários
mas como nunca fui muito bom
em ciências exatas e matemática
prefiro saborear o gosto do tempo
ao invés simplesmente enumerá-los
Pra mim o dia não tem 24 horas
nem as horas 60 minutos
Não me importa se são sete
os dias com que se medem as semanas
ou se é uma dúzia os meses que me faltam
até o próximo aniversário
Meus relógios não têm dígitos
nem uso agendas, cronômetros e anuários
O que faço é aspirar o vento dos segundos
e me transpirar em gotas líquidas de calendários
Talvez em minha autópsia possam encontrar
os milhares e milhões de números
que esqueci de orçar e até mesmo calcular
Mas até lá vou vivendo
sem saber que horário é este
nem qual é data em que estou