1, 2, 3... 40, 50, 60...

Cinco foi o número que me deram

quando completei cinco anos

Quinze foi a soma dos anos

que em mim se colou

por ocasião do décimo-quinto aniversário

Vinte foi o algarismo com que cognominaram

o celebrar dos meus rápidos vinte anos

Depois se seguiu o trinta e o quarenta

em que ninguém comemorou

minhas três e quatro décadas

E assim a vida foi passando

que nem conta de mercearia

ou cifras de extratos bancários

mas como nunca fui muito bom

em ciências exatas e matemática

prefiro saborear o gosto do tempo

ao invés simplesmente enumerá-los

Pra mim o dia não tem 24 horas

nem as horas 60 minutos

Não me importa se são sete

os dias com que se medem as semanas

ou se é uma dúzia os meses que me faltam

até o próximo aniversário

Meus relógios não têm dígitos

nem uso agendas, cronômetros e anuários

O que faço é aspirar o vento dos segundos

e me transpirar em gotas líquidas de calendários

Talvez em minha autópsia possam encontrar

os milhares e milhões de números

que esqueci de orçar e até mesmo calcular

Mas até lá vou vivendo

sem saber que horário é este

nem qual é data em que estou

Joaquim Cesário de Mello
Enviado por Joaquim Cesário de Mello em 24/04/2022
Reeditado em 29/04/2022
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