Malacara

à margem escura do lago

deuses de olhos pardos

o céu se abre estrelado

como se houvesse criado

a realidade dura dos fatos.

caminham

de braços

dados.

à margem da madrugada

árvores não dizem nada

cigarras

carros

e um rasgo

que pede

passagem.

ao longe

no rádio

Violeta Parra

um cão uiva com saudade de casa

e se apaga a luz do abajur da sala.

o último vinho a última taça

a cortina do teatro baixa

a lembrança extravasa

o gosto amargo engasga

e a incerteza se tudo

de fato

um dia

passa.