ELA, OS PEÕES E OS OUTROS

Acontece uma conversa filosófica e honesta sobre a vida, nas

sessenta e quatro casas que abrigam esporte, ciência, arte.

Xadrez é poesia na arte que seu poeta cria.

É também a lógica e a utopia de um mundo futuro

onde a figura feminina é a mais poderosa entre os sujeitos e

onde um rei branco pode ficar à mercê de um peão negro.

Ou seja, há séculos prediz e ensina o caminho das pedras e dos rios.

Lascivo, potente, entranha nas mentes seu vigor,

asperge magia que transforma.

No âmago do prazer que consuma, no amargo que sofre, estão suas plumas

onduladas de mistérios, marcando a fogo o coração de aço que precisa,

para não desfalecer.

Grande mestre da arte que ensina, ilumina a trilha na escuridão da mata

fechada em que tudo é possível, nada é incólume, e desistir é o atalho

para as feras o engolir.

A distância igual que separa derrota de vitória, determina a marcha da

vida em sua grandeza ou desarmonia, e ele vigia em silêncio.

Xadrez é preto no branco sem escalas, impassível, glorifica a justiça

plena na solidão do fracasso, no júbilo da conquista.

Alerta do perigo invisível na esquina, leveza no pé que toca o solo minado,

olhar atento ao que não vê, cuidar da colheita antes do anoitecer.

Um enorme ponto de luz evolui no imenso saber que inclui a densidade coletiva

necessária, a exata união que agrega, a organização que insiste,

a cooperação que carrega, a igualdade que existe, com elementos tão

desiguais.

Nessa fonte inesgotável de amor e pressa, o tempo não passa, apenas os

minutos a morderem a carne das horas com seus dentes afiados.

O xadrez nos leva ao paraíso e seu inverso, só os versos dessa

poesia nos guiam aonde vicejar.

Ao fim da lida, todos se deitam para um sono igual,

sem sonhos sem nada, agora descansam na partida final.

Orlando Alves Ribeiro
Enviado por Orlando Alves Ribeiro em 19/04/2022
Código do texto: T7498302
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2022. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.