O POETA PAROU DE PARIR

O dia começa amanhecer,

Um pássaro gorgeia a aurora.

Quero registrar este momento,

Mas meus olhos estão cansados.

O pássaro está num ramo,

O ramo resplandece.

O canto do pássaro é possuído

de imitações.

O canto e o pássaro contamina

a cidade.

As mulheres se encantam

e abrem as janelas.

Os risos das mulhes refletem

o canto do pássaro.

Aqui está uma festa, tudo vai acontecendo.

O grito do padeiro aponta lá embaixo.

Ainda é sonolento, mas começa

acordar a fome.

O pássaro se encanta e trina

Com mais entusiasmo.

As mulheres arredam as cortinas.

O velho compra apenas um pão

diz que o trigo está caro.

O dia vai se abrindo

e ficando chato, já ouço ruído

de carros.

Ouço espirros e toscos palavreados.

Tudo é belo, sem os excessos

da humanidade.

O pássaro voou, procurando a paz.

As mulheres recolheram os risos.

A fome ataca,é implacável.

O dinheiro é curto.

E o trigo está muito caro,

só mulheres são estrelas,

disse o velho barbado.

Depois que pássaro partiu,

O poeta caiu da pinguela,

O poema ficou por um tris.

O registro não vai existir.

O poeta parou de parir.

Na confusão da cidade

a inspiração se congela.

Divino Ângelo Rola
Enviado por Divino Ângelo Rola em 16/04/2022
Código do texto: T7496172
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