O POETA PAROU DE PARIR
O dia começa amanhecer,
Um pássaro gorgeia a aurora.
Quero registrar este momento,
Mas meus olhos estão cansados.
O pássaro está num ramo,
O ramo resplandece.
O canto do pássaro é possuído
de imitações.
O canto e o pássaro contamina
a cidade.
As mulheres se encantam
e abrem as janelas.
Os risos das mulhes refletem
o canto do pássaro.
Aqui está uma festa, tudo vai acontecendo.
O grito do padeiro aponta lá embaixo.
Ainda é sonolento, mas começa
acordar a fome.
O pássaro se encanta e trina
Com mais entusiasmo.
As mulheres arredam as cortinas.
O velho compra apenas um pão
diz que o trigo está caro.
O dia vai se abrindo
e ficando chato, já ouço ruído
de carros.
Ouço espirros e toscos palavreados.
Tudo é belo, sem os excessos
da humanidade.
O pássaro voou, procurando a paz.
As mulheres recolheram os risos.
A fome ataca,é implacável.
O dinheiro é curto.
E o trigo está muito caro,
só mulheres são estrelas,
disse o velho barbado.
Depois que pássaro partiu,
O poeta caiu da pinguela,
O poema ficou por um tris.
O registro não vai existir.
O poeta parou de parir.
Na confusão da cidade
a inspiração se congela.