O QUINTAL MAIOR QUE O MUNDO
Não curto os dias curtos de agora
onde tudo é tão ligeiro
como se corrêssemos do presente
feitos diabos que fogem da cruz
De Tik Toks me bastam meus TOCs
e os tickets de auxílio à alimentação
sou da época dos carteiros
e das cartas escritas à mão
Prefiro as lonjuras da infância
e o comprimento espaçoso das calçadas
por onde andava de bicicleta
desbravando a imensidão do universo
que tinha o tamanho de um quarteirão
Vivi a meninice em meio à selva
de minhocas, tanajuras, lagartixas
formigas, borboletas e aranhas de jardim
tudo lá era vasto e amplo
como todas as tardes de então
Enquanto adultos contam palmos e metros
os infantes correm infinitos quilômetros
que hoje cabem em meus carrinhos de caminhão
O quintal da casa da minha avó era
grande, largo e extenso
e foi lá que ficou perdida
aquela minha miúda criança
que ali brincava no chão