Sopro
O que é a morte ou a vida?
É o fim de um período difuso,
de uma história emoldurada,
de um tempo de muita espera,
de mesa posta na aurora,
de tarde de consternação,
de anoitecer em dores tantas,
de serenar ao alvorecer,
de batalhas sem vitória,
de dourados anos de glória?
De saudades fenecidas vivas,
de amores tão desejados,
de afetos não mais sentidos,
de sonhos combalidos,
de estradas interrompidas,
de navegares por entre mares,
rios, céus, portos e muralhas.
De corpos ermos que tombam
na solitude da noite funda
dormem o sono dos desvalidos.
A inebriada alma agoniante
canta a canção tardia dos mortais,
que ressoa ao longe até os confins
e dissipa o vento aos umbrais...
Murcha o broto a murmurar,
a ressurgir em outra quimera
nasce o silêncio entorpecente
como um fio a esvair-se
num leve sopro de luz
a busca infinita finda.