LUA OU O ENCONTRO - 19 - A acumulação de livros

Mário, o poeta cruel ou cru, remata "ab imo corde"

o poema "A acumulação de livros" em radical (acho!)

contradição com os versos do início. Estes proclamam

"... é o símbolo perfeito da minha pobreza, os livros

desenham sombras, invocam nomes ..." (p. 48), mas

os finais contemplam: "Observo durante horas

as prateleiras, imagino ter lido todos esses livros,

entender ..." (p. 49). Portanto, são não lidos, como

costuma acontecer ... Eu, LUA, tua avó, temos acumulado

muitos livros, quase todos dessa divisão que chamam

"letras", quando todos os livros, e ainda mais, oferecem

letras e trás as letras conceitos, conhecimentos , orbes

de sabedoria ou ciência do bem e do mal; tão pródigos

se mostram. Tua mãe, teu pai, teus avôs italianos, LUA,

sem dúvida dispõem de livros, que, salvo acidentes tristes

ou dolorosos, receberás, junto dos nossos. Que farás

deles e com eles? Não me parece que alcances a lê-los

todos, mas sim confio em que todos cheguem a ti e tu

os recebas, os conserves, os acarícies como se fossem

prolongação nossa, da nossa família, dos nossos mundos.