LUA OU O ENCONTRO - 18 - Amanhã talvez
Há dous momentos ou troços ou traços, LUA,
neste poema do Mário (pp. 50.51). Copio-os:
"... afastar a doença que deifica os objetos, e depois
escrever, talvez, um poema narrativo ...", não lírico,
mas lítico, enraivado ou prosaico ou aterrado,
mas não propriamente aparvorado: eis a condição
humana dos poetas, acho, LUA, ou talvez a singela
e só humana: que podemos temer com maior medo
do que a morte? Diziam velhos filósofos, lá pelos séculos XIX e XX,
vaticinados muitos séculos atrás, nos XI ... XIII, na espantosa
sequência do rito católico, "Dies irae, dies illa ...", já citada, ...
diziam esses filósofos, existencialistas, que somos nados
para a morte ... Feliz achado! Neste mundo quase tudo o que nasce
acaba morrendo, como os rios se apagam no mar ... salgado e lacrimoso ...
" ... ver como os continuam a matar, a pátria, dizem, e a nossa vida é fugir ..."
LUA, contempla longe, bem afastada do mundanal ruído, a vida
e comprovarás que dificilmente pode ser identificada com a pátria
(tu achas-te em duas, em três e mesmo até em quatro: fácil
arrancamento para entender a volatilidade ou firmeza
dessa estranha entidade que dizem "pátria") a vida,
a tua ou minha ou de teus pais ou avôs ou essa
justamente individual, e mais a comum,
... as vidas que alicerçam
no carinho ...