Ensino Remoto

Me sento em frente ao computador

Te ouço falar sobre a fosforilação da glicose

Me lembro do povo com fome lá fora

Volto a te ouvir, agora sobre outro assunto

Falas tão animadamente sobre o polígono de Willis

Me lembro das famílias expropriadas pela PM em outro bairro da cidade

Tua voz aumenta,

Parece haver tambores rufando ao fundo

No clímax, te olho e com brilho nos olhos me falas sobre os forames ovais

Me lembro dos trabalhadores amontoados no transporte coletivo durante a pandemia

É demais! Não consigo continuar te ouvindo

O que há de errado comigo?

Há algo de errado comigo?

Minha vontade é de arrancar o computador da tomada

Por sorte, tenho o papel

Não sei como, nem porque

Mas ele consegue subverter

Minha solidão em companhia

Minha tristeza em revolta

Minhas dores em ações

Minhas perguntas em respostas

Talvez seja isso que nos falte,

Materializar as indignações, dar nome aos problemas

Ah, medicina!

Um dia ainda serás outra

Não do eu para o eu,

Mas do nós para o nós.

Camaleão Vermelho
Enviado por Camaleão Vermelho em 10/04/2022
Código do texto: T7492254
Classificação de conteúdo: seguro