Delicado
Fui ensinado desde cedo a ignorar os meus desejos,
E perseguir algo que não me definia.
Nunca pude responder às dúvidas sobre mim mesmo,
E ao destino soberbo minha alma se resigna.
Tive que suprimir meus sentimentos,
Tive que esconder meus medos,
Mesmo assim um toque leve me partiu,
Pois, eu era delicado demais.
Aquilo que hoje liberta outrora me condenou,
Depreciado por adorar as coisas mais delicadas,
Rejeitado por falar mais através de cartas,
Rechaçado por preferir a sutileza,
Fui jogado fora, pois aos olhos alheios eu era mero desperdício.
Os meus gestos mais puros repeliam os que desejei por perto,
Tive que me suprimir numa casca tão apertada,
Esperando que o passado não ferisse tanto quanto o futuro incerto.
Desacreditado por quem acreditei,
Apunhalado por quem eu queria só o bem...
Minha alegria foi usurpada ou nem chegou a florir?
Ouvi coisas que até hoje machucam,
Às vezes as palavras perduram.
Um ódio desmedido lentamente sobrepujava minha tristeza,
Sensações insinceras maculavam minha mente,
Desejei a morte de tanta gente,
Inclusive a minha...
Meus dotes eram motivos de piadas,
Meus defeitos eram realçados,
Ofendido por quem mal me conhecia,
E por Deus fui ignorado.
Despejaram veneno na minha vida,
Da morte sempre estive a um passo.
Mesmo que meus pedaços possam ser colados,
Não existe uma mão macia o suficiente para me segurar sem me ferir,
Pois, ainda sou delicado.
Conheço bem meu agoureiro,
Cansei de repudiar seu reflexo no espelho,
Coberto de desespero e desnudo de esperança, quebro com o vento.
Tive que suprimir meus sentimentos,
Tive que esconder meus medos,
Tive que mascarar meus ferimentos,
Tive que ocultar meus desejos,
Mesmo assim um toque leve me partiu,
Pois, eu era delicado demais.