QUERO
Não quero a paz que vem do medo
prefiro o perigo das ruas
à segurança abafada das clausuras
dos sossegados cômodos domésticos
Não quero ouvir o que já sei
pois outrora decorei o discurso dos ecos
dos catecismos dos códigos e das regras sociais
Não quero espelhar olhos alheios
mas inclinar minha imagem aos lagos
que não nos postulam ou nos cobram nada
Não quero fungar cheiros de Chanel
mas sentir as gardênias e alfazemas
que vêm do verão exalante em teu pescoço molhado
Não quero o afobado dos versos mancos
porém as inquietações dos sentimentos grávidos
que antecedem aos batismos dos partos
Não quero unhas bem cortadas
e sim pintadas com a mesma cor
do batom da boca do meu anjo
Não quero o que me querem
não estou à venda nem sou Fausto
e escolho os sonhos da minha alma
Não quero ser malvisto ou bem-visto
quero apenas ser visto,
não como miragem,
mas paisagem