QUERO

Não quero a paz que vem do medo

prefiro o perigo das ruas

à segurança abafada das clausuras

dos sossegados cômodos domésticos

Não quero ouvir o que já sei

pois outrora decorei o discurso dos ecos

dos catecismos dos códigos e das regras sociais

Não quero espelhar olhos alheios

mas inclinar minha imagem aos lagos

que não nos postulam ou nos cobram nada

Não quero fungar cheiros de Chanel

mas sentir as gardênias e alfazemas

que vêm do verão exalante em teu pescoço molhado

Não quero o afobado dos versos mancos

porém as inquietações dos sentimentos grávidos

que antecedem aos batismos dos partos

Não quero unhas bem cortadas

e sim pintadas com a mesma cor

do batom da boca do meu anjo

Não quero o que me querem

não estou à venda nem sou Fausto

e escolho os sonhos da minha alma

Não quero ser malvisto ou bem-visto

quero apenas ser visto,

não como miragem,

mas paisagem

Joaquim Cesário de Mello
Enviado por Joaquim Cesário de Mello em 09/04/2022
Reeditado em 09/04/2022
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