Oceano e Desespero
Clara me disse,
com lágrimas nos olhos,
que estava sempre só
quando amanhecia.
Que nunca teve a sorte
de encontrar
alguém disposto a ficar,
no silêncio,
e quando se apagam as luzes
do último bar.
E eu senti,
um oceano
preso dentro dela...
e uma tempestade
pronta a estourar,
com o próximo gole.
Ela deixou o copo de lado
e afastou as lágrimas
com os dedos.
Não havia mais espaço
para nada
do lado de dentro.
E nada por falar
naquela hora.
Clara abriu um sorriso,
e se levantou
como se não houvesse peso algum
em suas costas,
e foi embora.
Encarei o copo,
e as cinzas
que ela deixou para trás
pensando que talvez
enfim,
alguém pudesse entender
minha incapacidade de amar.
talvez... apenas talvez,
ela soubesse
que há um certo romance
no engano,
no desespero
e na ilusão,
de quem espera,
pelo que nunca vai voltar.