Paisagem líquida
PAISAGEM LÍQUIDA
Rosália Cristina
O corpo que repousa na janela
observa, próximo, o rio.
O rio caudaloso cantarola
suas vozes de água doce
Ao fim da tarde, a paisagem, o frio.
Suas águas barrentas
que resistem à cidade,
se ondulam num bailar contínuo,
alentando o olhar do menino
que por ele faz sua passagem.
Não é travessia de corpo molhado,
é travessia de pensamentos!
O menino na janela
O rio caudaloso e barrento
Imagem viva, sem tela.
Observar o rio hipnótico
não é árduo, nem perigoso.
O rio pode ser sorrateiro,
Ao perceber o olhar zeloso,
de quem observa seu leito.
O rio é resiliente e vivo:
irrepetível jornada de águas.
Sob a janela e o menino
Oferece-se livre e passa
em correntezas, sumindo.
A tarde que vai com ele
Não leva do menino, o sorriso
Nem da janela, a possibilidade.
Deixa-os com novos rios
Que suas águas sempre trazem.