ODE PRA SÃO PAULO
Essa cidade que tanto geme, tanto rala, tanto esperneia,
com seus becos desafortunados, sua foz estranha,
seus passos tortos, trêmulos e rasgados.
Cidade que adota sem olhar quem,
que acolhe sem pedir carimbo,
que afaga sem dizer não quero mais.
Cidade brava, confusa, descabelada,
de garras aflitas, puídas, esgarçadas,
de ventos fétidos, de cor puída, de sorriso oco,
nos seus sangues percorrem vidas tantas,
na sua alma abrigam sonhos caramelados,
Cidade madura, sábia, inspiradora e letal,
tem tetas recheadas de quitutes mil,
tem berros escandalosos gritando paz,
de ar de varanda, de pé no quintal,
de barriga nunca cheia, de gente que nem parece gente,
Cidade na ponta da faca, na buzina, no duro respirar,
resiste à febre do dinheiro, à pressa eterna, ao caos sem fim,
resiste aos tantos que dela sugam seu dolorido ganha-pão.