Pacto de não agressão
Mais uma vez, espraia-se o odor fétido
Da rosa radioativa, cujas pétalas,
Amareladas e envelhecidas, pelo norte gélido,
Esquentam os corações de quem, do Sul, admira-as.
Vi o homem que tentou agarrar-te,
De sua mão, escorria-se rubro sangue:
O antigo vermelho que venceu Napoleão
Goteja, pelo mundo, agora, destruição.
Admiração?
A rosa, será que a esquecemos?
Ou devemos saltar de botânicos a necrólogos?
A quem comporemos o próximo réquiem?
Sem trigo, não há pão; sem pão, não há Cristo;
Sem Cristo, não há Deus; sem criador, não há criatura.
O que nos resta então? O Homem.
Aquele velho lobo na estepe
Salta os olhos sobre o pequeno coelho:
Anteriormente, banqueteavam juntos;
Mas, agora, ao mostrar os alvos dentes,
O canino, com voz ríspida, afirma:
- Decifra-me ou te devoro-te! (Édipo chega à Tebas)
Desde que do barro fora feito,
Do homem, a serpente anda ao lado.
Golias vocifera com bombas e tanques;
No entanto, neste momento, a atiradeira está na mão dos ianques,
Que de barbáries nutre-se seu ventre.
O homem não tem salvação, (Édipo comete o incesto)
Pois está condenado por ser tão
Escravo de sua palavra:
Perdão!
Que é, somente, proferida,
Após, o delinquente ato de seu desejo,
Este que, ao desejante, é boa ação:
Perdoar é afirmar que a maçã sempre será comida.
Finalmente, é chegada a época
De erguer os gládios e as hastas,
E, montado em bucéfalos de ferro e aço,
Pôr abaixo as antigas catedrais.
De Édipo todos somos filhos;
Vivemos em solo seco e duro:
Não sermos salvos é a nossa salvação (Édipo exila-se)