Poema Fiasco

E se eu fosse o fiasco?

Ou a faísca do cigarro?

E se eu fosse o “sei” ou, nem sei, o “acho”?

Ou a destreza do seu projeto básico?

E se eu fosse o cisco que incomoda a sua visão?

E se eu fosse um pouco da sua falta de ar?

E se do seu desespero,

eu fosse parte da causa?

E se eu fosse o resto ou o inseto,

que atormenta seu descanso?

E se eu fosse todo seu fiasco?

Ou fosse a causa da sua perdição?

E se fosse eu, o mau caminho?

E se eu fosse a culpa da sua ilusão?

E se eu fosse a dúvida, a pergunta, a indecisão?

E se eu fosse o sonho, quase o pesadelo?

E se eu fosse a projeção daquele seu medo?

E se eu fosse a cortina que encobre seu trauma?

E se de mim, você escondesse um segredo?

E se eu fosse assim, sua falta de lucidez?

E se de mim você tirasse apenas o calço?

pra esse seu medo, seu ensejo ou seu problema de solidão?

E se pra você eu fosse apenas o ópio?

E se eu fosse somente um bastão?

E se eu fosse um receio, um mal necessário?

E se eu ocupasse o lugar da sua covardia

e de uma fratura de apreensão?

E se eu fosse o confronto de uma vida chata e dura?

E se eu for uma experiência passageira, uma corrupção?

E se eu fosse um dia seu nublado?

Ou um desenho sem cor?

E seu fosse incolor, indolor, insosso e mofado?

E se de mim, você escondesse o vigor?

E se olhasse pra mim e não sentisse tesão nenhum?

E se eu só ocupasse apenas uma parte?

E se fosse eu, a sua falta de arte?

A sua falta de criação?

E se eu for somente seu costume?

Uma presença indiferente?

A sua falta de opção?

E se eu fosse a pessoa que você tolera e engana?

E se eu fosse parte de um ego que não mais reclama?

O esteio da sua baixa autoestima?

E seu fosse apenas parte de um recado?

E seu fosse uma farsa? Quase a desgraça?

E seu fosse a traça, que roeu teus sonhos?

E as suas ganâncias e fantasias? Onde estão?

E seu eu fosse as perguntas que você não suporta?

E se fosse eu, esse ser, a energia morta?

O seu lado complicado, a sua falta de decisão?

E se eu fosse o sonho que você não tinha?

E seu fosse a rota e não o caminho?

O fim da ousadia?

Seria eu, sempre esse mesmo fiasco?

Não pergunta!

Mas seria bom, eu acho.

Seria absolvido do enfado.

Seria dia todo dia. Sem cair perene a noite.

Sem pergunta e sem fantasia.

Seria eu o seu projeto de sanidade?

Sem loucura nenhuma:

Simples,

Conveniente, e enfado.

Exatamente penoso.

Exatamente, exato!

Fábio Alvino
Enviado por Fábio Alvino em 31/03/2022
Código do texto: T7484739
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