Sou esperar.

 

Sou barco no cais, tempestade no mar,

Sou folha no chão, vento vem assoprar.

Sou fera à espreita, o pulo tem hora,

Sou marca do tempo, o momento demora.

 

Dias que se sucedem em anos que se acumulam,

Flores que nunca florescem, nuvens que nunca flutuam.

A nada se presta o desejo, que não se faz realidade.

Mais nada se espera do amor, que se transformou em saudade.

 

Folhas de cartas em branco, nunca contaram de sonhos,

Risos em lábios entreabertos, meros espasmos tristonhos.

Alvorecer de esperanças, em céu carregado de chuva,

Rubro que tinge o vinho, sem que se colha a uva.

 

Sou esperar, sou silêncio

A sombra que brilha na noite,

O calor que antecede o beijo

O estalar do açoite.