A poesia venceu ao final
Ah, poeta estúpido !
Porque não te calas dentro de mim?
Minh'alma calejada não quer mais saber
Das coisas coloridas dessa vida,
Ela está ressequida e desiludida.
As pessoas mentem,
O café esfria ,
Os casamentos acabam,
As flores murcham ,
A fome insiste,
O frio lacera.
Onde está tua poesia nesta hora?
Por quais mares torpes do eufemismo ela singra?
Não quero te ouvir bradando dentro de mim,
Leva tua poesia para outros cantos.
Arei meu coração mas a chuva não veio,
A semente não germinou,
O grão não madurou ,
Agora o que vejo são apenas cinzas.
As rosas estavam lindas,
Vermelhas,
Grandes,
Viçosas ,
Perfumadas.
A foice do carrasco decepou-as ,
elas sangraram,
a terra foi arrasada,
os restos apodreceram.
Poeta estúpido.
Porque não te calas?
Pare de poetizar a vida.
Está bem...
Venceste,
Rendo-me.
Que meu corpo tombe no campo de batalha
de peito aberto.
Que meu sangue fecunde a terra dos meus antepassados,
E que do meu peito inútil e sem vida,
Nasça uma flor.
E que essa ao desabrochar seja poesia.