SENSAÇÕES RENOVADAS
Livrei-me dos olhos cansados
Da compacta tragédia cotidiana
Lágrimas de sangue e ódio puro
Corroendo o rosto sob a máscara.
Eu tenho agora meu olhar limpo
Para enxergar toda beleza da flor
E do inseto que busca nela o pão
E a vida se espalhando pelo vale.
Livrei-me dos ouvidos cansados
Dos ruídos apocalípticos bailando
Vozes dissonantes buscando o tom
E sobre cancros, marcas de batom.
Eu tenho agora o ouvir mais puro
Percebo a sinfonia da brisa na tarde
E a canção inebriante que se forma
Na paixão forte que no peito arde.
Livrei-me do meu ofegante olfato
E da ilusão que me distrai o tato
Odores de pesadelos do passado
O amargor azedando o meu jantar.
Eu tenho as sensações renovadas
E as portas da percepção abertas
Não sou mais pássaro em revoada
Nem me rastejo por rotas desertas.