Na biblioteca

No grande salão, sentado, centrado também,

volvo o olhar para os leitores, mentes

imersas,

sinapses superativadas, olhos, mãos e

cérebros

em páginas rodando em linhas retas negras,

como se os quatro olhos ―uso óculos―

fossem

as quatro rodas do Cadillac, em pleno asfalto

da Rota Sessenta e Seis, buscando a figura

fugidia

de um Dean Moriarty, buscando o timbre

da voz de Jack Kerouac, com frio, com sede,

com fome de estradas e utópicos horizontes...

A vida em flashback de um Road Movie passa

na tela da memória, convidando a tequila e a

mim

para uma fiesta en las autopistas de el México

a 150 km por hora e besos en las muchachas.

Os livros todos ali nas estantes sussurram-me

que os leia, como mosquitos aos milhões

nas estradas zumbindo com vozes espectrais

de autores já há muito (l)idos, mas vivos de

novo,

gritando ganidos silenciosos das páginas

emanando.