Eis que completei sessenta...

E nem sei o que fazer com o dia em que nasci.

Não sei se devo sorrir como um tolo

Ouvindo abalizadas e desastradas saudações

Que me asseguram mais outros sessenta anos

Embora sem dúvida todos saibamos

Que a estrada é de mão única e se precipita

Fim...

 

Não sei quantas vezes devo, pela boa educação

Estender as mãos aos cumprimentos que chegam

Do norte e do sul da minha existência...

 

Ou então beber as bebidas mais caras

Saciar o apetite até explodir pelo imenso vazio

Que em mim bem se disfarça como consciência...

 

Talvez eu devesse apenas gritar, sim, vociferar

A amigos, vizinhos, virtuais criaturas, ninguém 

Que aos sessenta tudo me parece sem exceções

Que foram fechados os buracos de fechadura 

Da sacrossanta indiscrição dos primeiros tempos

Que o todo por mim agora captável

Esta nú de originalidade....

Como um palhaço repetindo, nem ele sabe porque

Pela milésima vez a mesma graça.

 

Talvez eu não devesse fazer absolutamente nada

E deixar este dia passar...

Com a mesma indiferença de quem assovia 

Uma melodia inventada...

Não falar nada, não escrever nada

Nem mesmo um poema angustiado e estático...

Ter sessenta anos

É tão só um evento matemático. 

 

Crédito da imagem:https://www.facebook.com/projeto60anos/posts/1628708713891259/