Ser fluvial
Sou uma criatura de sonhos,
sonhos eróticos e distorcidos
pelas curvas do espaço-tempo
na torpeza dos oprimidos.
Sou uma nota da partitura,
uma nota que ecoa solitária
em um galpão de violoncelos
no subsolo de uma funerária.
Sou a terra que me cobre,
o vento que me procura
e a mágoa que se engole
quando lucidez confunde loucura.
Sou servo da mediocridade,
um qualquer no horizonte
que um dia será um nada
como todos que cruzam a ponte.
Não existo enquanto potência,
somente enquanto ação,
traçando rotas sem convergência
cuja foz é a contra-mão.