Uma certa dialética das coisas mínimas

Muitos dizem

Ah, no meu tempo...

O meu tempo sempre é hoje!

Mas, no decorrer de 24 horas,

torna-se ontem,

e o amanhã se torna hoje,

que vira ontem...

Nada mais dialetizante

porque mutante,

tempo nunca-sempre-quase

a esgotar-se, inesgotavelmente...

Tempo-vento: o tudo-nada

a bater,

a esbofetear suavemente a face do ilhéu

e desalinhar as madeixas

da cabocla banhista,

a lembrar que outrora

acariciou a cara

do autóctone-índio no moqueio,

o corpo suadensangüentado

do cabano na Batalha,

a defender-se no Chapéu-Virado...

Do veranista no convés

do Presidente Vargas...

Nas janelas do Beiradão,

nas Vans.

Esse tempo-vento, tempo-ventre,

a que porto-futuro

guiará esse barco-ilha

de desencanto-acalanto,

sempre ao mesmo tempo-vento?...